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Dublinenses, de James Joyce

Certa vez, numa aula de literatura, um professor fez o seguinte comentário: “Imagine que você está à beira mar, contemplando um por do sol belíssimo e aquilo lhe faz sentir algo especial, um sentimento único naquele tempo e espaço, que te faz bem – ou mal, dependendo do que sente – e, infelizmente, não consegue expressar aquilo em palavras. Essa é a diferença de uma pessoa normal e um poeta.”

Neste tempo eu já tinha o presunçoso sonho de me tornar escritor. E essas palavras ecoaram – e ainda ecoam – de forma muito contundente em minha mente. O poeta (e por conseguinte, o escritor) é o tradutor de sentimentos, concluiria então naquele dia.

dublinenses - capa

Este pensamento foi uma latente constante enquanto lia Dublinenses, de James Joyce. Tomei o livro como uma preparação para proximamente me dedicar a ler Ulisses , a amada e odiada obra prima do autor. Obra que, a título de curiosidade, deveria ser um conto a mais em Dublinenses , mas que acabou tomando uma proporção (megalomaniacamente) maior.

Dublinenses reúne uma série de contos sobre o cotidiano de Dublin, mostrando várias faces e facetas de seus cidadãos, com uma forte carga de realidade. Algumas vezes tão ácida que me causou náuseas e ódio. Ao ponto de desejar rasgar a página lida (quem leu “Contrapartida” sabe bem o que eu falo). Joyce atua como um poeta do real. Ele não divaga ou faz digressões. Apenas aponta e mostra como realmente é com habilidosa precisão. Cabe ao leitor julgar o que vê.

Diferente de Hemingway, cujos personagens são sempre parecidos (pequenas variações do próprio autor e não menos genial por isso), James Joyce cria pessoas com psiques totalmente diversificadas: Do bruto assassino à doce velhinha de bochechas rosadas.

James JoyceCita de sua cidade aquele tipo de detalhes que só quem lá viveu poderia reconhecer. Um beco, um boteco, uma loja, um odor ou um perfil… Impressões digitais que reconhecemos em nossas próprias vizinhanças.

Boa parte dos contos não apresenta um final ou um encerramento direto, deixando o assunto em aberto. Particularmente, isso me incomoda um pouco, mas me leva a crer que a intenção do autor é apenas demonstrar que na vida real, diferente do mundo de fantasia, às vezes simplesmente não há soluções para nossos dramas ou que volta e meia temos de lidar com um encerramento abrupto, uma morte, um corte de cena inadvertido. Incontrolável.

Na maioria das vezes a narração é em terceira pessoa. Mas o narrador foca no ponto de vista do protagonista, quase como uma consciência do próprio, revelando seus pensamentos e reações no desenrolar da história. Os diálogos são escassos e permeados da reações dos interlocutores em relação a eles.

Vale um Café Vienense (poderia ser um Irish Coffee, já que o autor é irlandês)
[rating=5]

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E já que Dublin é descrita por Joyce com tanto desvelo, que tal conhecer um legítimo pub irlandês com este nome?
Próximo domingo, dia 17/03, é o St.Patrick’s Day, dia de um dos padroeiros da Irlanda, uma ótima data para isso.
Clique na imagem abaixo e saiba mais sobre o “Dublin” no Lugarzinho.

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2 Replies to “Dublinenses”

  1. Tens o talento de, ao resenhar, despertar a vontade de ler o livro.
    estou certa que um conto não precisa ter um encerramento. Para de te incomodar com isso!

    Ps.: Estremeci com a “quase blasfêmia” que Hemingway tinha personagens sempre parecidos. Ufa! não se concretizou a heresia.

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