Não é tão legal quando encontramos alguém que compartilha conosco alguma paixão e podemos então verificar que não somos, afinal, sozinhos no mundo? Este é o sentimento que emergiu ao ler Para Ler Como um Escritor, de Francine Prose.

paralercomoescritorAssim como O Zen e a Arte da Escrita, de Ray Bradbury, Prose apresenta sua experiência de como se formou escritora, através da paixão pela leitura. Porém diferente do primeiro, Prose é mais didática e estruturada (proveniência com certeza de sua vida acadêmica).

O livro inicia com a célebre pergunta: “É possível ensinar alguém a ser escritor?”. A qual, rapidamente, a autora se exime da responsabilidade de responder, dizendo não saber. Mas sua proposta é indicar um caminho através da análise minuciosa dos livros. Ela se refere à chamada leitura atenta ou close reading, que se trata de uma técnica usada na crítica literária onde se lê palavra por palavra, tentando identificar a subjetividade incutida no texto. O motivo da aplicação daquelas palavras pelo autor. Algo tangível apenas a grandes escritores que, com seus gênios, pintam obras cheias de simbolismos e conceitos subjetivos.

A cada capítulo, ela analisa um item da estrutura literária (palavras, frases, parágrafos, diálogos, etc) e dá como exemplos trechos de clássicos mundiais. Conhecimento muito, mas muito útil aos escritores iniciantes. Além da análise de, por exemplo, por que determinado autor se tornou célebre ao desenvolver maravilhosas frases iniciais (Heinrich von Kleist e Kafka), ela compartilha um pouco de sua vida, contando sobre a jornada de se tornar escritora. Algo sempre delicioso de observar, visto o grau de identificação que tenho.

Porém, indubitavelmente, o maior “gol” do livro são as referências bibliográficas. Ela indica dezenas de livros e autores clássicos. E mostra o porquê de considerá-los mestres para seguirmos. Eu, como leitor e pretenso escritor, tenho algumas vezes dúvidas em relação ao melhor caminho de formação. Por isso as indicações de Prose me valem tanto.

Ainda traz dois brindes: Há um posfácio escrito por Ítalo Moricone que, ao estilo de Prose, analista alguns trechos de obras brasileiras. A meu ver, Moricone poderia ele próprio escrever um livro inteiro sobre esse assunto, tamanha prestimosidade de suas análises e comentários. Também há uma entrevista com a autora que, embora não acrescente tanto ao mote do livro, é bastante interessante.

Um defeito: A edição brasileira está com uma fonte horrível. Pequena demais. O que talvez torne a leitura um pouco cansativa. Mas vale a pena o esforço.

Merece um capuccino.
[rating=4]

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