ponto-cego

Ponto cego
Felipe Colbert

Sinopse
Um ano após o acidente que interrompeu a gravidez de Nilla e sentindo-se culpado pela iminente separação, o repórter Daniel Sachs recebe um pedido de socorro escondido em um objeto e descobre que sua ex-mulher desapareceu em Veneza durante a cobertura de um show de ilusionismo. Seguro de que é o único que pode ajudá-la, ele parte em busca do resgate da fotógrafa e, consequentemente, a correção de todo passado. Porém, pistas misteriosas dão indícios de que o desaparecimento de Nilla possa estar ligado a um novo tipo de comércio ilegal na cidade – a produção de filmes snuff. Ao solicitar ajuda ao investigador Giuseppe Pacino, Daniel passa a ser perseguido e a ter sua vida ameaçada por um impiedoso criminoso. A situação piora quando eles ficam sabendo que Lorenzo Oro, um ilusionista cego de grande prestígio na Europa e dono de habilidades surpreendentes, foi a última pessoa a conversar com Nilla antes de seu desaparecimento. Incerto das próxima ações, Daniel enfrentará uma série de obstáculos e revelações imprevisíveis até chegar ao clímax arrebatador: a decisão de permitir ou não que seu corpo seja controlado por outra pessoa para salvar a mulher que ainda ama.
(fonte: www.skoob.com.br)

ponto cego

Acredito que uma boa parcela de leitores desenvolveu seu gosto pela leitura com livros de mistério ou policiais – Agatha Christie, Rex Stout, Conan Doyle, Georges Simenon. E eu não me excluo. Mas antes de ler a Dama do Mistério, eu já me aventurava por esse estilo curtindo vários livros da Coleção Vagalume – quem foi adolescente nos anos 80 deve lembrar bem deles: O mistério do cinco estrelas, de Marcos Rey; O escaravelho do diabo, de Lúcia Machado de Almeida, entre tantos outros.

Desde então, sempre que tive em mãos um exemplar desse tipo de literatura, ficava na expectativa de reviver aquela sensação gostosa de ver-me envolvida pela estória a ponto de não poder largar a leitura. E, confesso, há muito tempo isso não ocorria. Até eu tirar Ponto cego da prateleira da livraria e começar a folheá-lo. Como de hábito, li a contracapa, as orelhas e nesse ponto já estava interessada na estória. Comecei a ler o prólogo e… “Bingo!”, lá estava aquela sensação novamente. A trama é bastante envolvente, o suficiente para que eu terminasse de lê-lo em menos de um dia. Felizmente, a impressão inicial não se desfez. Gostei muito, apesar de alguns poréns que não chegaram a tirar o prazer da leitura.

O autor escreve de modo a induzir o leitor a seguir lendo. E há duas coisas na estrutura da estória que eu curto bastante e que foram bem utilizadas por Colbert. Nenhuma delas é novidade, mas o autor fez bom uso do recurso:

  1. O prólogo é um trecho de algo que só vai acontecer quase no final do livro, um pouco antes do clímax. O leitor é jogado numa fogueira, sem entender muito bem o que está ocorrendo. O autor acertou em cheio na escolha da cena que é oferecida como “aperitivo”. O trecho deixa quem lê com aquele comichão de saber logo “que diabos é aquilo”. E não lhe resta alternativa a não ser continuar com a leitura.
  2. Inicialmente, a estória tem dois fios narrativos principais – um deles acompanha Daniel; o outro, Pacino. Estes se alternam com um terceiro – acompanhando o(s) vilão(ões) – que, apesar de menos desenvolvido não é menos importante e intrigante. E o autor, na maioria dos capítulos, deixa um fio pendente, fazendo o leitor querer avançar logo pra continuar daquele ponto. Semelhante a Game of Thrones, com a diferença de que o narrador, neste caso, é onisciente e não em primeira pessoa. Boa estratégia que cria expectativa do momento em que as estórias irão se cruzar.

veneza - gondolas

Não dá para deixar de notar certa semelhança com os livros de Dan Brown, principalmente Código da Vinci. Os principais elementos estão ali:

  • estória ambientada em outro país, dando oportunidade para um tour turístico enquanto os eventos se sucedem;
  • um casal de desconhecidos que se une para solucionar um mistério. Ele, um forasteiro. Ela, moradora da cidade “estrangeira”, que lhe serve de guia;
  • um sujeito aparentemente fora do comum, incumbido de uma missão obscura – ou mais de uma.

Contudo, as semelhanças acabam aí. O estilo de Colbert é bem menos megalomaníaco e grandiloquente, e o texto não tem tanto aquele aspecto de “pronto para virar filme”. Os personagens são mais humanos, causando maior empatia do leitor. Em Código da Vinci, o enfoque é maniqueísta, não há meio-termo. Com o perdão do clichê, é tudo preto no branco. Os personagens, apesar de alguns pequenos defeitos, são facilmente separados entre mocinhos – bons, altruístas, cheios de qualidades – e bandidos – maus, traiçoeiros, cheios de defeitos. Enquanto que, em Ponto cego, há gradações de cinza entre os extremos, como o investigador Pacino. Ele é quase um anti-herói – alcóolatra, mal-humorado, irascível, apartado dos colegas de trabalho, execrado pelo chefe -, mas que apesar de toda sua vivência ainda se esforça para cumprir seu dever de policial, tentando garantir que a justiça seja feita. Resumindo, um mocinho com muitos, muitos defeitos. Ainda sobre os personagens, ou melhor, sobre a construção deles. Enquanto que os masculinos são muito bem construídos – temos a sensação de conhecê-los muito bem -, os femininos deixam um pouco a desejar. Achei-os mais superficiais e, em alguns casos, careciam de motivação plausível – Sophia, por exemplo.

Tenho uma observação quanto ao final. Tive a impressão de estar assistindo a um daqueles filmes em que o roteirista planta um monte de questões durante a trama que apenas são respondidas, às pressas, nos últimos 20 minutos de filme. Achei que o desenlace ocorreu rápido demais e que a “cena pós-crédito”, ou melhor, pós-clímax se desenrolou em tão poucas páginas que quase pareceu um deus ex machina, uma solução um pouco forçada.

Mas enfim, exceto por alguns pequenos percalços na narrativa – e alguns pequenos erros de revisão – o livro tem qualidades. É uma trama policial nos moldes daquelas “de antigamente”, com os mistérios sendo esclarecidos por pessoas – pelas células cinzentas como diria Hercule Poirot – e não por traquitanas tecnológicas. Vale investir algumas horas e acompanhar Daniel em sua busca, enquanto conhecemos um pouco mais de Veneza.

colbertSobre o autor:
Felipe Colbert é autor de dois livros e especialista em estruturação de romances. Possui trabalhos publicados no Brasil e na Europa. Estreou na literatura em 2008 com a obra policial A entrevista ininterrupta, publicada pela Novo Século.
(fonte: http://www.felipecolbert.com.br)

[cotacao coffee=macchiato]

[compre link=”https://amzn.to/3HGbguU” bookstore=”amazon”]

Cristine Tellier
Últimos posts por Cristine Tellier (exibir todos)
Send to Kindle

One Reply to “Ponto cego”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *