cthulhu

O chamado de Cthulhu e outros contos
H.P.Lovecraft

O livro não fazia parte do Desafio literário, mas H.P.Lovecraft é um escritor que já há algum tempo me sentia em dívida por não ter lido nada de sua autoria – mea culpa. Mas a oportunidade de lê-lo apresentou-se inesperadamente e não hesitei em aproveitá-la.

Meu interesse por Lovecraft foi despertado quando começaram a vazar algumas notas informando que Guillermo Del Toro produziria um filme baseado em Nas montanhas da loucura. Aparentemente, a produção foi cancelada, porém minha curiosidade acerca de sua obra permaneceu. Principalmente depois de aprender que ele foi um discípulo confesso de Edgar Allan Poe. E, dos gêneros ficcionais da literatura, o realismo fantástico é um dos meus prediletos, perdendo apenas para a ficção científica. Aliás, preciso admitir que devo a Poe meu gosto por esse estilo narrativo, sendo os “Os crimes da rua Morgue” e “O poço e o pêndulo” minhas primeiras incursões em seu universo – assunto para outro post.

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Minhas impressões iniciais, ao ler os dois primeiros contos do livro, foram de imediata familiariadade. Explico-me. Apesar de nunca ter lido qualquer texto de Lovecraft, tive a impressão de conhecer bem o mundo em que ele ambienta suas estórias. E isso se deve ao fato de muitas outras obras terem bebido de sua fonte. Veio-me à mente uma grande quantidade de referências e citações em filmes e livros de ficção científica (ou não) posteriores às suas publicações. E, como já comentei em outros posts, é isso que faz um clássico literário, a perenidade da obra – mantidas as devidas proporções, a narrativa permanece atual mesmo dois ou três séculos depois. Pode não ser tão assustadora ou aterrorizante quanto na época em que foi produzida, já que os tempos são outros, mas a qualidade do texto, o teor da narrativa, o carisma dos personagens são inegáveis. Possivelmente, o estilo pesado e bastante adjetivado de Lovecraft espante alguns leitores habituados demais com a leveza da literatura mais contemporânea. Mas é perfeitamente contornável.

É inevitável a comparação com Poe. Gostei muito do que li, mas Poe ainda permanece meu predileto. Um dos motivos é que Poe não escreveu apenas textos de terror/horror, seu universo é bem mais abrangente. Aliás, alguns estudiosos o apontam como, talvez não o criador mas, o responsável pela popularização do gênero ficção policial – as populares estórias de detetives. Certamente Sherlock Holmes não existiria, do modo como o conhecemos, se Poe não brindasse os leitores com “Os crimes da rua Morgue”. Talvez em outras obras de Lovecraft seja diferente, mas pareceu-me que, diferente de Poe, seu terror, sua fantasia voltam-se mais para o lado mítico, não necessariamente místico, já que monstros e criaturas de origem desconhecida são presenças constantes e bastante memoráveis em seus textos. Por outro lado, Poe segue mais para o lado do terror psicológico, com estórias calcadas no cientificismo que era moda na sua época.

Sobre o livro em si, gostei bastante dessa edição da Editora Hedra. A introdução rica em detalhes sobre os interesses do autor, suas ideias sobre o estilo literário a que se dedica é bastante esclarecedora e ajuda muito a contextualizar a obra. E o apêndice, que contem uma carta escrita pelo autor e originalmente publicada no apêndice de O chamado de Cthulhu, agrega bastante aos leitores interessados em se aprofundar na obra de Lovecraft. Os contos de que mais gostei, além do que dá título ao livro, foram “Vento frio” e “O modelo de Pickman”.

Sem dúvida, qualquer fã de ficção científica e/ou literatura fantástica tem quase a obrigação de ler Lovecraft. Na minha opinião, não pode se denominar fã desses gêneros quem não leu Lovecraft. Assim como Poe, é leitura obrigatória para quem gosta de boa literatura e de boas estórias.

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Cristine Tellier
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2 Replies to “O chamado de Cthulhu”

  1. Gosto de como o autor narra em primeira pessoa. Isso aumenta a imersão do leitor, por entrar na pele do personagem.

    Também é responsável pelo climão o modo como são descritas as sensações e reações dos personagens aos lugares e eventos aterradores.

    O diálogo/monólogo de O Modelo de Pickman é realmente um primor de estilo narrativo.

  2. E mesmo impressionante o estilo narrativo, a descricao dos seres e bem esclarecida e o clima de terror inegavel. Ainda o considero pscologico, digo o chamado de cthlulhu, pois apenas sugere o universo dos mitos atraves de relatos dos investigados, comprometidos pela loucura ou fascinio dos mesmos, que sempre estao fora de suas condicoes psicologicas normais. A propria racionalidade do narrador comeca a desmoronar com as coincidencias que lhe surgem. Ou seja, fantastico.

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