o andarilho

O andarilho (Vagabond)
Bernard Cornwell

Cheguei ao final do mês sem ter terminado de ler o livro proposto do Desafio Literário. E eu no domingão, primeiro de abril, sem nem lembrar de inventar alguma peça para pregar em alguém, fiquei quase o dia todo fazendo uma das atividades que mais me agrada: lendo. Terminei o livro uns 10 minutos antes de a segunda temporado de Game of Thrones se iniciar na HBO – mas a série é assunto para outro post.

Manipulei o desafio a fim de encaixar este livro. A proposta do mês de março era “Lendas universais”. Forcei um pouquinho ao considerar a lenda do Graal como universal, mas está valendo. O intuito de ler um livro por mês foi atingido. E minha vontade de continuar lendo a trilogia A Busca do Graal foi saciada. O andarilho é o segundo volume dessa trilogia. Li o primeiro – O arqueiro – já há algum tempo. Assim que o li, procurei o segundo volume nas livrarias e não o encontrava. Depois de algum tempo, adquiri-o, mas estava lendo outro e assim, o livro foi ficando para o final da fila – problema resolvido com sua inclusão no desafio.

o andarilho

Para aqueles que – assim como eu – se encantaram e se deliciaram com o primeiro volume principalmente devido à narração bastante crua e detalhada de guerras, lutas e contendas, certamente acharão o segundo volume bem menos empolgante. A ação ocorre de maneira bem mais lenta, até contida. Nos dois primeiros terços do livro, quase não há lutas – e as que ocorrem não são muito grandiosas, o que talvez desanime alguns leitores – eu inclusive. Mas persisti. E fui recompensada. O último terço mostrou-se tão interessante quanto a narrativa do primeiro volume.

A série Em busca do Graal traz como cenário a Guerra dos Cem Anos, um conflito dinástico iniciado em 1337, com Eduardo III reivindicando a coroa da França, e que terminou com a tomada de Bordeaux pelos franceses, em 19 de outubro de 1453. As tramas, os homens e as histórias por trás da luta pela coroa francesa confirmam Cornwell como um dos principais escritores históricos da atualidade.
Neste novo romance, a aventura começa em 1346. Os ingleses invadiram a França e os escoceses a Inglaterra. São tempos incertos e obscuros, e o primeiro que encontrasse o Santo Graal – uma espécie de tesouro guardado por anjos e procurado por demônios – seria considerado vitorioso.
Thomas de Hookham, jovem arqueiro inglês, que aos 18 anos viu o pai morrer em seus braços após um ataque de surpresa, deixa a França, seguindo para as Ilhas Britânicas em busca do cálice e do assassino de seu progenitor. Filho bastardo do homem que dizem ter chegado mais perto que qualquer outro do cálice, Thomas tem uma grande e secreta vantagem sobre todos. Um diário escrito em latim, hebraico e grego – uma espécie de código – deixado por seu pai, que parece conter informações sobre o esconderijo do tesouro.
(fonte: www.siciliano.com.br)

vagabondEspecialista em história militar, Cornwell é conhecido por conseguir mesclar muito bem fatos históricos e ficção. E a trilogia do Graal não é diferente. Alterando o período em que costumeiramente a busca pelo Graal é situada – período arturiano – e tirando proveito da lenda de que hereges cátaros tiveram a relíquia em seu poder, consegue construir uma narrativa atraente e bastante sedutora, apesar da crueza e do tom extremamente realista de algumas descrições – talvez justamente por esses motivos, seja tão atraente para boa parte dos leitores.

Neste livro, mesmo os dois terços iniciais não tendo tanta ação, valem a leitura pela aula de história. Os detalhes sobre a Igreja e a Inquisição são bem explorados e garantem alguns bons momentos da estória. O trecho abaixo é um bom exemplo, ótima introdução para o que vai se seguir na estória:

A inquisição, tal como a ordem de frades dominicanos, era dedicada à erradicação da heresia, e para isso empregava fogo e sofrimento. Eles não podiam derramar sangue, porque isso era contra a lei de Deus, mas qualquer sofrimento provocado sem derramamento de sangue era permitido, e a inquisição sabia bem que o fogo cauterizava o sangramento e que a tortura não perfurava a pele de um herege e que grandes pesos colocados sobre o peito de um homem não rompiam veia alguma.

A tríade “sangue, suor e fezes”, forma carinhosa a que os fãs de Cornwell se referem à sua maneira de escrever, está ali como sempre. A crueza e a violência não deixam de se fazer presentes mesmo quando a narrativa se arrasta um pouco, entre uma luta e outra. Mas o último terço do livro compensa tudo. A espera é recompensada com a narração de mais uma batalha que simplesmente impede o leitor de abandonar a leitura antes de terminar. Até chegar a esse trecho eu tinha dúvidas se seria capaz de terminar a leitura antes de findar o domingo. Mas depois, a única preocupação era terminar antes das 22:00 – horário de exibição de Game of Thrones – simplesmente para não ter de interromper a leitura.

Terminei de ler o livro bastante satisfeita. Satisfeita comigo, por ter cumprido o desafio, mesmo que com um dia de atraso. Satisfeita com o livro, que me deixou com vontade de ler logo o terceiro volume da trilogia.

(*) tradução do título: “Meu cálice me embriaga” (brasão da família Vexille)

[cotacao coffee=macchiato]

[compre link=”http://bit.ly/o-andarilho”]

Cristine Tellier
Últimos posts por Cristine Tellier (exibir todos)
Send to Kindle

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *