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Push
Sapphire

“Toda folha de grama tem seu Anjo que se curva sobre ela e sussurra: ‘Cresce, cresce'”
(Talmude)

Já há algum tempo estou para assistir ao filme e, por um motivo ou outro, acabo por não fazê-lo. Numa das minhas visitas à Livraria Cultura (ah, o paraíso dos bibliófilos), vi o livro no qual ele se baseia em exibição numa das prateleiras. E, como integrante cativa do grupo de LCCA (Leitores Compradores Compulsivos Anônimos), não neguei meu vício e prontamente o adquiri. Ainda não assisti ao filme, portanto nenhuma comparação entre um e outro será feita. Não agora.

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“Claireece Precious Jones é obesa, analfabeta e está grávida pela segunda vez do próprio pai. Vítima de constantes abusos físicos e psicológicos por parte da mãe, alimenta a esperança de melhorar sua vida e a da filha. O encontro com uma professora batalhadora a apresentará a um mundo novo.”


O trecho acima é uma parte do texto impresso na contra-capa do livro. Por si só, já é chocante. E a estória toda é tão chocante e depressiva que chega a parecer inverossímil, pura ficção, mas não é. Segundo a autora, é quase tudo verdade. Parcela da sua experiência como professora num abrigo para mulheres no Harlem. O que torna a leitura ainda mais perturbadora. Saber que as situações descritas ali fizeram (fazem) parte da realidade dessas mulheres não é sensação das mais agradáveis. Gera um desconforto que persiste mesmo depois pausarmos a leitura. Há que ter estômago para ler.

Narrado em 1ª. pessoa, a linguagem do livro reproduz o linguajar chulo e gramaticalmente pobre da personagem. Para quem, como eu, preza pelo cuidado com a última flor do Lácio, acompanhar os erros de grafia e concordância é algo muito, muito incômodo a princípio. Mas é essencial para nos fazer mergulhar e entender o mundo da personagem. Suas dificuldades, seus problemas, seus medos, seus anseios. E não apenas isso. Acompanhamos a evolução, o crescimento da personagem através da progressão da linguagem, que se torna cada vez mais próxima da norma culta à medida que avançamos na leitura, à medida que a personagem se descobre como pessoa.

Ao mesmo tempo que a hitória nos deixa indignados pela situação precária de Precious, é gratificante, quase mágico, ver o poder da leitura, da descoberta das palavras. O quanto isso afeta positivamente a auto-estima daquelas mulheres, meninas-mulheres, tentando libertar-se do “mundo-cão” em que viveram desde sempre.

Para quem prefere, como eu, ler o livro antes de assistir ao filme, ter a foto da protagonista na capa não é algo que agrade muito. Uma parte da diversão de ler um livro perde-se com isso, pois fica impossível construir imageticamente os personagens. Apesar disso, quem se aventurar pela narrativa, dificilmente se arrependerá. Não é uma leitura fácil. Tanto pelo teor da estória, como pela linguagem. Não espere finais felizes, afinal não é ficção. Mas, ao invés de um dramalhão, é uma estória intensa e visceral, que conquista e prende o leitor do início ao fim.

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Cristine Tellier
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