Neon azul
Eric Novello

“Escolha o seu lugar, faça o seu pedido. Depois do primeiro drinque, você jamais será o mesmo.”

Mais um “atravessador” na minha fila de leitura. Ao invés de terminar o que comecei – a leitura de 4 livros que foi interrompida pelos mais diversos motivos – tumultuei a sequência natural, lendo Neon azul.

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Já conhecia Novello, sendo ouvinte assídua do podcast Papo na Estante, do qual ele participa. E, há algumas semanas, ele iniciou a publicação de um vlog sobre literatura. Assisti a todos os episódios de uma vez e acabei ficando curiosa sobre a produção literária dele. Resolvi comprar o livro mais recente para matar essa curiosidade.

O livro chegou, autografado, e a intenção não era lê-lo logo. Mas por se tratar de uma estória em formato fix-up (*) fiquei tentada a fazê-lo no intervalo dos demais. Lêdo engano. Nada de leitura nos intervalos, li-o de uma só vez, passando-o à frente dos outros. O formato não é nenhuma novidade, sendo utilizado frequentemente ao reaproveitar para um livro contos anteriormente publicados em revistas (ou blogs). E Novello soube bem se utilizar desse recurso. Por sugestão dele, li os contos na ordem que estão no livro, apesar de saber que poderia ter feito diferente.

Fã incondicional de Edgar Allan Poe, gosto muito de narrativas de realismo fantástico. Literatura cotidiana com “um pezinho” no irreal, no fantástico, no mágico, com uma linha tênue separando os dois mundos. Tão tênue que, por vezes, não há como dissociá-los, um acaba por ser parte intrínseca do outro. E o livro de Novello é assim. Uma fantasia urbana em que o leitor vê-se às voltas com o dia-a-dia de um bar, o Neon Azul, no qual aparentemente cada cliente tem uma experiência diferenciada. Sendo que o próprio bar parece estar no limiar entre realidade e fantasia.

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Eric Novello
Gostei das frases curtas, mas nem por isso menos elaboradas. Mas as entrelinhas são essenciais. O que não é dito, o que fica a cargo do leitor preencher. Eu mesma, preenchi algumas delas de maneiras diferentes. Ideias e teorias diversas para um mesmo acontecimento. Qual das versões é a correta? Seria a mais provável? A mais bizarra? Ou a mais surreal? Não sei. Mas não creio que seja mesmo preciso que apenas uma delas seja a correta. O autor obviamente sabe, mas eu como leitora inveterada acho que não quero saber. Prefiro preencher as lacunas a meu modo. É mais divertido, mais lúdico e, certamente, torna a leitura muito mais interessante. Assim como é um atrativo adicional ir juntando as peças, montando aos poucos a colcha de retalhos que agrega as estórias pois, a exemplo de Lost, o caminho dos personagens se entrecruza dentro e fora do bar.

Instigante também é o questionamento da moralidade. O que é certo ou errado? Devemos dizer sim à realização de um desejo mesmo não sendo moralmente correto? Essa escolha permeia todos os contos e as únicas certezas são de que há sempre um preço a pagar e que a satisfação do desejo não é garantia de final feliz.

Por não ser um romance com início, meio e fim, chega-se ao final da leitura com uma certa inquietação. Não é desagradável mas, mesmo assim, uma inquietação. Termina-se o livro querendo mais. Mais estórias, conhecer mais personagens – qual a estória do barman, dos seguranças, dos demais funcionários? Mas esse suspense, esse final inexistente tem simplesmente tudo a ver com o livro. Seria totalmente brochante ter um capítulo final “fechando” todos os círculos, amarrando todas as pontas soltas.

(*) Estrutura narrativa que é um meio-termo entre coletânea de contos e romance. São contos independentes mas interligados entre si, formando uma estória maior, de complexidade similar ao romance.

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Cristine Tellier
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