Comédias da vida privada
Luis Fernando Veríssimo
Reúne alguns dos melhores textos de Luis Fernando Veríssimo. Justamente aqueles em que se trata de um dos temas nos quais se movimenta com mais destreza e maestria. O território imenso, opaco, denso e impreciso da classe média. Com seus herois anônimos, os grandes e os pequenos gestos,a complicada engenharia familiar, as fidelidades, as infidelidades, as mesas de bar, as angústias, o trágico e o cômico combinados na estranha sinfonia do cotidiano, casais, salas de jantar onde são decididos destinos com a televisão ligada, vizinhos barulhentos, Copacabana, enfim, ambientes onde transitam a esmagadora maioria dos habitantes deste país.
(fonte: contracapa de Todas as comédias)
Admito que li praticamente todos os livros de Érico Veríssimo antes de “descobrir” que o filho, Luis Fernando (LFV), também era escritor. E antes também de me dar conta de que aquelas tirinhas no jornal de domingo que eu lia antes de todo o resto – “As cobras” e “Família Brasil” – eram de sua autoria. Feita a descoberta, passei para as crônicas publicadas nos jornais, depois para textos do Analista de Bagé e do Ed Mort, e finalmente mergulhando num volume com todas as comédias da vida privada.
Depois do conto, a crônica é, sem dúvida, o formato literário que mais me agrada. Admiro, nos autores que a dominam, a intersecção entre ficção e realidade, fato histórico e ironia, cotidiano e filosofia.
Imergir na leitura destas comédias é o mesmo que lembrar-se de todas as situações ridículas e/ou hilárias pelas quais praticamente todos nós já passamos. E fazer o leitor rir de situações que, provavelmente, no momento em que ocorreram não pareceram assim tão cômicas é uma tática de que Veríssimo se vale com bastante desenvoltura. Mais que qualquer outro, o texto humorístico pressupõe uma troca, uma interação com o leitor e também pressupõe certo conhecimento por parte de quem lê. É preciso que o leitor conheça o assunto, mesmo que supercialmente, a fim de entender o contexto e, consequentemente, o humor. E se há algo que todo leitor conhece são essas pequenas situações do dia a dia que todos vivenciamos. E o trunfo de LFV é justamente esse. O autor transforma em riso as vergonhas, os vexames, as paixões, os mal-entendidos, as birras, os ódios, as infidelidades, os casos e acasos, as contrariedades advindas da convivência (ou não) com outras pessoas.
O livro é composto de 101 pequenas estórias, crônicas do cotidiano com pitadas de bom-humor e ironia na medida certa, justificando o título. As estorietas estão divididas em seis capítulos:
- Fidelidade e infidelidades – 14 crônicas
- Encontros e desencontros – 16 crônicas
- Eles e ou Elas – 41 crônicas
- Família – 13 crônicas
- Pais e Filhos – 5 crônicas
- Metafísicas – 8 crônicas
Todas muito gostosas de ler. No meio de tantas crônicas seria improvável não existirem algumas não tão interessantes ou engraçadas. Mas em geral isso advém do fato de já a termos lido em algum outro lugar ou de já tê-la “assistido” em sua versão televisiva. Contudo há sempre aquelas preferidas. As minhas prediletas concentram-se na primeira e na última parte:
- A fidelidade
Em que um marido consegue um habeas-corpus preventivo - O encontro
Em que um casal recém-separado encontra-se por acaso num supermercado, e ambas usam a mesma desculpa – ou mentira – para justificar sua presença ali. - Lixo
Em que dois moradores de um prédio encontram-se na área de serviço e descobrem que há tempos um vem analisando o lixo do outro. - Borgianas
Em que o narrador joga xadrez com Jorge Luis Borges. - Contículos
Em que Jorge Luis Borges sonha que está acordado.
Seria tolice esperar do texto de LFV a densidade e a profundidade reflexiva características da escrita do pai, Érico. Mas nem por isso, são menos provocativos. A perspicácia com que pinça detalhes da vida cotidiana e a leveza com que os transforma em metáforas mais abrangentes deixam a leitura muito envolvente. Assim como toda boa crônica, seu texto é dinâmico e ágil, sem frases longas e tortuosas nem adjetivos em excesso. Enfim, é uma leitura que não cansa, diverte e provoca. Indicada para toda e qualquer ocasião. Na sala de espera ou na fila do banco? Indicada. Para passar o tempo numa viagem de metrô ou de ônibus? Indicada. Para se ocupar durante a viagem de avião ou de trem? Indicada. Nas férias? Na praia? No campo? Indicada. Seja em dias de sol ou chuva, quando o leitor está feliz ou triste, em casa ou no parque. Sempre é uma boa hora para se entreter lendo as comédias.
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Conheçam também o Veríssimo no Lugarzinho:
- Tony & Susan, de Austin Wright - 18 de fevereiro de 2022
- Só para loucos - 31 de janeiro de 2022
- Retrospectiva 2021 - 3 de janeiro de 2022
Foi um enorme prazer conhecer as crônicas , da Comédia da vida Privada….Luís Fernando Veríssimo é maravilhoso…
Olá Edna,
Realmente a leitura vale muito a pena.
Abraços e boas leituras 🙂